MAGNO RIBEIRO
O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
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SONHAR É COMEÇO

Nunca fui o que sonhei ser.

Mas ainda sonho.

E, às vezes, entre os escombros de mim,

Reluz a centelha do que ainda posso ser.

 

Mas o sonhar é vasto.

É como mar sem barco.

É o grito que ninguém escuta

Porque ficou preso na garganta do tempo.

É o mapa desenhado em nuvem,

Que muda antes da bússola apontar.

 

O poeta disse que tinha em si

Todos os sonhos do mundo.

E tinha mesmo, como quem verte o infinito

Na moldura imóvel da poesia.

Seu verso ardia, mas não queimava o chão.

Seu sonho era chama

Que não incendiava o tempo.

 

Eu também sonhei, incontáveis vezes,

Mas aprendi a não me bastar do sonho.

Porque o sonho, quando não encontra os pés,

Apodrece na alma.

 

Já falhei muito

Nas palavras que calei.

Nas estradas que não tive coragem de abrir.

Quando fiz o que não deveria ter feito.

Quando não fiz, e era tudo o que me restava.

Quando me movi por impulso,

E quando não hesitei por orgulho.

Quando fiz o que precisava ser feito

E ainda assim, não era o que deveria.

Falhei quando tentei ser alguém que não era,

E quando neguei quem sou.

 

Mas descobri que o fracasso

É só uma dobra do tempo

Quando ainda se caminha.

 

Há quem sonhe e durma.

Há quem sonhe e desperte.

E caminhe, mesmo sem certeza,

Mesmo sob o peso das madrugadas.

Com o rosto ao vento,

A mão aberta,

E o risco do ridículo pendendo dos ombros.

 

A beleza do sonho não está em si,

Mas no que dele nasce.

No gesto, no passo,

No dia que se permite ser outro.

 

E eu?

Sou o que sonha, e continuará sonhando.

Mas não como antes.

Agora, sonho com os olhos abertos,

Com os pés atentos ao chão

E a memória das quedas sussurrando cautela.

Porque aprendi que sonhar

É também vigiar o caminho.

 

Sonhar é começo.

O resto é vida em movimento.

 

WITTEMBERGUE MAGNO
Enviado por WITTEMBERGUE MAGNO em 31/07/2025
Alterado em 31/07/2025
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