MAGNO RIBEIRO
O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
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ENQUANTO ESPERO

Enquanto espero acontecer,

não sou espera,

sou intervalo entre o que não foi

e o que talvez.

Movo-me em silêncio,

como raiz que rasga a pedra

sem urgência,

sem alarde.

 

Derramo, sem intenção,

a febre dos meus ais,

como quem deixa escorrer

uma ausência antiga.

Mas há nisso algo que arde

sem consumir,

uma sombra que não escurece.

 

Vejo sem ver,

e, às vezes, sei.

Não porque me foi dito,

mas porque algo em mim

parece lembrar do que nunca soube.

 

Não caminho para chegar,

nem permaneço por abrigo.

Sou levado por algo que não escolhi,

mas consenti,

como quem ouve um chamado

sem saber de onde vem,

mas reconhece o tom.

 

E nisso,

como quem pressente sem saber,

na fidelidade que não cede,

este ser que se suporta e se recolhe

abriga, em silêncio,

um tempo que ainda não veio.

Porque é assim,

enquanto espero,

que me preparo

para, um dia,

ainda poder ir além.

 

WITTEMBERGUE MAGNO
Enviado por WITTEMBERGUE MAGNO em 31/07/2025
Alterado em 31/07/2025
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