MAGNO RIBEIRO
O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
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CONFLUÊNCIA DOS INVISÍVEIS

Há um pacto selado no silêncio
entre o sopro breve do instante e a eternidade que espreita.
Nem sou caça, nem caçador do tempo,
apenas passo, como ele passa,
num compasso de olhos fechados.

 

Não corro.
Não me atraso.
Sou feito de agora.
E ele também.

 

Às vezes cruzo com a sombra dele
num reflexo na vidraça,
num fio branco que aparece,
num gesto que se repete sem que eu saiba por quê.

 

A vida?
É isso que pulsa sem forma
entre a dúvida e o desejo,
entre o que arde e o que abraça.
E a alma, essa caverna feita de ecos,
abriga lembranças, algumas minhas,
nem todas boas, mas todas minhas,
marcadas a fogo ou sussurradas na bruma.

 

Já a morte,
essa paz sem cor,
que recolhe tudo ao pó, de onde vim,
não me assusta mas comove.
É como ver um campo que nunca floresceu,
um nome que ninguém chamou com ternura,
ou como alguém que passou a vida inteira
escutando a música,
mas nunca se permitiu dançar.
Falta nela o riso que rompe o silêncio,
a febre dos que erram por amar demais,
a beleza do que foi quase.

 

Então eu respiro e nesse fôlego, sinto:
sou vértice entre o que fui e o que vem,
sou tempo habitando a própria ausência,
sou instante que decidiu permanecer.

 

WITTEMBERGUE MAGNO
Enviado por WITTEMBERGUE MAGNO em 31/07/2025
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