MAGNO RIBEIRO
O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
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FORJADO NA LÂMINA DOS CONTRÁRIOS

 

A vida, esta lâmina de dois gumes,
não se curva ao desejo de um só lado.
Há luz que cega,
e sombra que revela.

 

O tempo, senhor de silêncios e sopros,
mas também de barulhos e explosões,
esculpiu seus traços em mim
com mãos ora de ferro, ora de vento.
Não me ensinou a vencer, ensinou a resistir.

 

Não nasci para ser imune,
mas inteiro.
E ser inteiro é conter rachaduras
sem perder a solidez.

 

Em tempos de aço e ausência,
aprendi a fazer das perdas
alicerces,
das dúvidas
caminhos,
das dores
sentido.

 

Não rejeito as pedras:
recolho-as.
Com elas construo silêncios
que confortam,
e também ruídos
que despertam.
Firmo-me como chão discreto,
não por virtude de firmeza,
mas por ter aprendido,
no atrito entre quedas,
a não me romper.

 

Ser é aceitar o inacabado.
É reconhecer o que fere
e ainda assim seguir.
É não temer o caos,
mas aprender seu ritmo.

 

Já não busco perfeição,
mas a verdade que pulsa
no imperfeito.
Não meço valor por vitórias,
mas pela coragem
de recomeçar sempre
que tudo desmorona.

 

Porque viver
não é evitar a queda,
é cair com tal inteireza
que até o chão, sob o peso,
me faça a fôrma.

E dessa fôrma,
nasça a forma
que me molda
e me impele
a seguir.

 

WITTEMBERGUE MAGNO
Enviado por WITTEMBERGUE MAGNO em 31/07/2025
Alterado em 01/08/2025
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