MAGNO RIBEIRO
O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
Capa Textos Fotos Perfil Livro de Visitas Links
Textos

O ENCONTRO DOS INVERSOS

 

Ser é verbo em trânsito,
direto ao abismo ou indireto ao céu.
E, por vezes,
viver é conjugar contrários na primeira pessoa.

 

Na gramática dos dias,
há horas de ser pedra,
e noutras, inevitavelmente, de ser rio.

 

Ser inteiro exige o corte:
onde há luz, há a sombra que lhe confere forma.
Onde há entrega,
há também trevas que convocam o recuo.

 

Ser forte é, por vezes,
não resistir.
Ser sábio,
é calar o saber.

 

Entre o verbo permanecer e o verbo partir,
ergue-se a ponte dos paradoxos.
Amar também é negar-se.
Cuidar, às vezes, é afastar.
E construir… ah, construir:
requer, antes, destruir com propósito.

 

Na semântica da alma,
antônimo não é o oposto raso,
mas o outro lado da mesma necessidade.

 

O silêncio é o antônimo da palavra,
mas também sua moldura.
A ausência é o antônimo da presença,
mas sem ela, o encontro é invisível.
O não é o antônimo do sim,
mas ambos são escolhas que nos definem.

 

E quando a existência declina em conjunção adversativa -
contudo, todavia, porém -
é aí que o ser se revela mais inteiro:
não por ignorar o conflito,
mas porque é no conflito que nos despimos do falso.

 

Viver é ser ambíguo com intenção.
É conjugar-se no presente do imperfeito
e aceitar que
ser antônimo de si mesmo
é, muitas vezes,
o único modo de ser completo.

WITTEMBERGUE MAGNO
Enviado por WITTEMBERGUE MAGNO em 01/08/2025
Alterado em 01/08/2025
Comentários