SILÊNCIO VIVO
Escrever é criar um vazio,
um espaço onde o mundo não toca,
um canto onde o silêncio cresce
e as palavras flutuam como ecos de nada.
A música molda o ar em melodia,
dança nos poros da existência.
A pintura, por sua vez, fixa o instante,
prende o olhar no instante que respira.
Até a escultura, com seu peso eterno,
esculpe no espaço o movimento imóvel.
Mas a literatura,
Ah, a literatura não nasce deste plano.
No instante em que é criada,
não prende, não embala, não anima;
ela se move fora do alcance do mundo,
um sonho que só habita o ato de escrevê-la,
um lugar onde o inverossímil encontra sua verdade.
Um romance revela verdades travestidas,
um poema sussurra sentimentos que ninguém sente.
E, assim, escrever não é lembrar o mundo,
mas apagá-lo por completo,
desenhando outro universo
onde os sons e os ecos jamais se encontram.
Mas nesse vazio há uma espera,
como uma chama oculta entre sombras.
A palavra sonhada deseja encontrar o olhar,
a alma que decifra o que escapa ao comum.
E quando é compreendida, a literatura floresce,
não como verdade, mas como vínculo,
um laço invisível entre quem cria e quem sente,
preenchendo o silêncio com novos sentidos,
fazendo do silêncio um gesto a dois.