O PARADOXO DE DEUS
Há, em Deus, um lugar onde o juízo se dissolve,
e o brotar da compaixão transcende todo porquê.
Mas não é dado ao homem medir
onde termina um
e onde pulsa o outro.
A justiça é o eixo invisível do universo,
o equilíbrio que restitui a cada caminho do homem
o peso exato de seus passos.
É o brilho que não oscila,
o verbo que não hesita.
A misericórdia, porém, é o desenlace do insondável,
o suspender de todo cálculo,
o dom que desborda o mérito.
Ela não anula a justiça,
apenas a preenche com sua plenitude.
E nesse abismo imensurável,
entre o que merecemos
e o que nos é dado,
reside o mistério inexaurível de Deus.
Ali, onde termina o cálculo e começa o dom,
confia coração exaurido,
confia como quem repousa
na certeza de que Ele é mais do que a regra.
Porque a misericórdia de Deus é mais vasta que o abismo,
mais real que o castigo,
mais divina que o mérito.
Diante de tal paradoxo, a razão se dobra,
mas a fé atravessa pés firmes,
como quem avança entre um mar aberto.
Pois crê verdadeiramente
aquele que teme como se não houvesse graça,
mas espera como se não houvesse condenação.