POEMA SEM NOME, ATÉ O FIM
Entro sem pressa, onde cabe o silêncio.
Sou o sopro que antecede a virtude,
um brilho discreto no ato mais puro,
um eco manso que ninguém discute.
Não levanto voz, não peço atenção
mas se me olham, permaneço.
Não sou o gesto, sou a intenção
que deseja, quieta, algum apreço.
Habito o olhar de quem oferece
e já espera o olhar de volta.
Sou flor plantada na prece,
com raiz sedenta de glória.
Quando se dá, e logo se espera,
quando se ajuda, e se precisa ser visto,
quando o bem se reveste de esfera
e reflete em si todo o seu rito...
Aí estou, contida no brilho,
no detalhe nobre que chama o olhar,
no silêncio que veste o orgulho
com o adorno sutil de se doar.
Não sou má, mas suspiro por reflexo.
Não sou mentira, mas gosto da forma.
Sou o afeto que pede resposta,
a doçura que traça sua norma.
Sou quase beleza, quase amor,
quase entrega, quase verdade.
Sou o aplauso atrás da dor,
a moldura da caridade.
E se me percebes agora,
é porque deixei.
Não fugi, nem menti.
Apenas me ocultei...
E se atentares para todas as obras
que faço debaixo do sol,
verás em cada brilho, em cada gesto,
em cada forma,
que tudo sou eu, sou a vaidade.