POEMA COM NOME, DESDE O INÍCIO
Chamo-me Humildade.
Não sou ausência, mas escolha.
Sou a medida exata entre o que se é
e o que se sabe não ser.
Habito os que não gritam sua luz,
mas caminham com ela no íntimo.
Sou a raiz que sustenta a árvore,
sem erguer-se acima do solo.
Não busco aplausos nem reflexos,
pois não me movo pelo brilho,
mas pela entrega que se consome
sem desejar memória.
Sou a virtude que se oculta no ofício,
a mão que serve antes do nome,
o passo que cede o lugar
sem perder a direção.
Sou o não dito que edifica,
a presença que não exige espaço.
Sou a sabedoria de calar
quando o mundo clama por vanglória.
Habito o olhar que compreende,
não para julgar, mas para acolher.
Sou o joelho que se dobra,
não por fraqueza, mas por força.
Não sou pequena,
sou discreta.
Sou a grandeza
que aprendeu a não se exibir.
E quando me vês, não é por vaidade,
mas porque tua alma se aquietou o bastante
para notar o que não brilha
mas ilumina.
Sou a humildade:
não o vazio, mas o centro.
Não a sombra, mas o chão.
Não a ausência de valor,
mas o valor que não se anuncia.