A VIDA É LÍQUIDA
A vida não é reta.
É curva, é dobra, é vão.
É ponte erguida no escuro
Sobre rios de incerteza e expansão.
Carregamos ausências como se fossem destino,
E tropeçamos mais no que sentimos
Do que no chão que nos sustenta.
O tempo, esse artesão impaciente,
Nos ensina esculpindo
Com golpes que doem mais
Quando atingem onde estamos em construção.
Não há manual para existir.
A existência não avisa,
Ela exige.
Cada perda não é fim,
Mas ruptura que revela
O que resiste em nós
Depois do vendaval.
Há dores que nos afinam,
Como se a alma fosse um violino antigo
Ajustando sua vibração ao silêncio.
E é nesse silêncio tenso, entre nota e respiração,
que a dor se torna carne,
e as metáforas cedem espaço
ao simples ato de continuar.
Sim, há dias em que respirar parece esforço,
E levantar, um ato heroico.
Mas até o silêncio carrega sabedoria
Para quem escuta com o peito aberto.
A felicidade, essa fugitiva,
Não mora nas certezas,
Mas nos instantes em que aceitamos
Que tudo transita, tudo cede,
Inclusive a dor.
E o que fica?
Fica o que aprendemos ao cair.
Fica a fé que não se vê,
Mas que sustenta.
Porque a vida não se molda à força;
Ela escorre entre os dedos,
Inconstante, incontrolável, impermanente.
A vida é líquida...
mas aquele que não se afoga, aprende a nadar.
No Post, Sinopse desta Prosa Poética. No fundo, a obra Três mulheres (Three Women/1921), do pintor francês Fernand Léger.