TESTEMUNHANDO A MIM NO INEVITÁVEL
Não escolhi a hora,
nem a forma,
nem o pano de fundo.
Fui lançado.
Meu nome, uma senha
que não criei.
Sou efeito de causas
que o tempo ocultou,
eco de ideias
que nunca me pertenceram.
Tudo em mim é caminho
que me antecede.
E também sou trilha
para passos
que não saberei.
Entre a carne e a consciência,
sou ponte,
sou flecha,
sou o intervalo entre o antes e o depois.
Se o destino for teatro,
sou o ator que sangra
mesmo nas cenas interpretadas.
E, como dissera o poeta,
sou fingidor,
fingindo ser dor,
a dor que deveras sinto,
sem saber se é minha
ou do papel.
O texto que me coube
não admite emendas visíveis.
Mas nas entrelinhas,
planto dúvidas.
Aceito o texto,
não por submissão,
mas por saber
que também escrevo
no modo como caminho.
Resisto,
não para vencer,
mas para guardar acesa
a chama quieta
que me sustenta por dentro.
E se o fim não for grandioso,
trágico, espetacular?
E se for apenas... natural?
Simples como o gesto de apagar a luz
quando se vai dormir,
que se lembre:
estive aqui.
Houve presença, mesmo no efêmero.
E essa presença
não foi ruído,
nem ausência disfarçada,
mas uma assinatura feita com integridade,
e com consciência desperta.
No Post, Sinopse dessa Prosa Poética e, no fundo, a obra O Beijo, de Gustav Klimt.